Quando acordar em um domingo, era simples e sem compromissos. Quando a segunda já se fazia uma saudade…da escola, dos amigos, das brincadeiras no recreio (intervalo). E as brincadeiras? Eram tantas, que podíamos escolher. Brincadeiras cantadas em verso, muitas já revelavam líderes, e outras eram verdadeiros desafios. Tinha para todos os gostos. Me lembro de uma que eu amava, e que hoje nem é conhecida pela maioria das crianças. Escolhíamos quem seria o mestre, e ele propunha os desafios para a meninada. A ordem era encontrar uma flor, objeto da cor do desejo do mestre, ou mesmo dar uma volta completa no quarteirão. O último a cumprir a prova levava um castigo. Decidíamos a quantidade e a intensidade dos “bolos”(tapas nas mãos), que podia ser de pai, mãe, filho ou anjo – do mais forte ao mais fraco. Ah! Era uma delícia ser o mestre e puxar o diálogo! Boca de forno? ,Forno!…Jacarandá? Já!…Quando eu mandar? Vou!…E se não for? Apanha!… Empate? Seja lá do que fosse, e o desempate era logo resolvido com Pedra, Papel e Tesoura. As brincadeiras iam de A a Z, mas eu tinha pressa de crescer. Pra que? Pergunto eu. Queria mesmo era voltar ao grupo escolar, e jogar queimada, pular elástico, brincar de esconde esconde, mãe da rua, passa anel… Não era nada mal, ter medo do Lobo Mal, e poder confiar no Caçador de arma na mão. Crescer pra que? Era muito melhor aquele mundo de imaginação e magia, onde éramos todos cientistas malucos. Até telefone de latas vazias ligadas por um barbante, inventado por nós, funcionava. De algumas caixas de fósforos, construíamos mobília para uma casa inteira. E os rádios com direito a AM/FM, feitos de barro em dia de chuva. Quanta salubridade na nossa doce inocência. Brincadeiras simplórias, atividades lúdicas sadias que fizeram bem para o nosso corpo e para nossa alma, construíram as melhores lembranças do passado. Mas queríamos crescer, e para isso não medíamos esforços, nos equilibrávamos em cima de latas de leite ninho, unidas por um cordão. Quantos de nós não fizemos a nossa estréia em uma bota de gesso, por causa das pernas de pau feitas até com cabo de vassouras velhas. Nossos bolsos, eram capazes de guardar, uma laranja, um canivete enferrujado, um pacote de chicletes, algumas moedas, barbante enrolado, era pura magia. E os nossos corações eram tão puros, que não enxergávamos, nenhuma diferença ou feiura. Nas nossas pequenas mãos, tudo virava sonho, tudo era possível e transformável Hoje em dia a realidade é tão dura, que dá vontade de encolher, voltar à infância, viver novamente naquela casa com meus pais e irmãs, no meu próprio mundo, sem pressões e preocupações, rodeada das minhas bonecas. Quero pular amarelinha, empinar kafifa, brincar de roda…quero o catecismo e o meu grupo escolar. Quero me sentir importante enfileirada, assistindo ao hastear do Pavilhão Nacional, cantando o nosso Hino, sem erros. Quero voltar pra casa e gritar…oi pai, oi mãe!
AF

Brincadeira de Criança
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Comentários
4 respostas para “Brincadeira de Criança”
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E dói ver as crianças de hoje sentadas em frente ao computador dentro de casa. E a gritaria dos coleguinhas? Quanta saudade! Quanta diferença! Vivemos uma linda infância.
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REVIVI CADA MOMENTO DA MINHA INFÂNCIA, QUE RECORDAÇÃO LINDA !!! SENTI FALTA DO ROUBA TERRENO, SRSRSR TUDO TÃO PERFEITO, SE PUDÉSSEMOS VOLTAR NO TEMPO EU QUERIA TUDO IGUALZINHO …! E DESTA VEZ GRITARIA MAIS ALTO ” MANHÊÊÊÊ O PAAAAAI CHEGOOOOU ” !!! .
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Li para o Enzo! Ele adorou e falou: “Eu adorei, mesmo!”
Disse que conhece a brincadeira Mestre, que agora chama O Mestre Mandou, só que sem o castigo para quem ficou por último.
Gostei muito que ele reconheceu todas as brincadeiras das figuras,.. Hoje em dia, a maioria delas, as crianças não brincam mais.
Com certeza, o Enzo é uma das poucas crianças que têm o privilegio de conhecer e ainda brincar. O que antes era tão comum, tão simples e tão feliz! -
Pai…mãe…irmãos…quanta riqueza não é ?!! E só damos conta quando saímos de casa e nos sobra o lavar, cozinhar, cuidar dos filhos, trabalhar, etc… A mãe briga (que saco!), o pai cobra (que saco de novo!)… mas quer saber ? Que bom…rsrs… segurança, essa é a palavra… e nós, na responsabilidade de termos nossos filhos, de educá-los, instruí-los e conduzí-los não podemos nem parar para pensar, chorar e dormir um pouco mais… senão perdemos o horário da escola !!rsrsr… Contudo isso a única certeza que levamos é de que essas lembranças de pai para filho, do “manhêê… cadê minha meiaaa…” serão nossas recordações, nossas esperanças e nossa força para dormir hoje e acordar amanhã para enfrentar mais uma batalha do dia-a-dia… de cabeça erguida…porque nós, mães, não podemos parar ! – e nem chorar !! (um sentimento que me veio!…acho que escrevi muito!rsrs)… Love you !
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