Quantos fantasmas mais teremos que contar, pra nos convencer de que, vivemos uma grande solidão. Assistida muitas vezes, pelos que ainda insistem em apostar que não.
São muitos que nos rodeiam e vivem a olhar-nos. A maioria nós nunca mais vimos, nunca sequer ouvimos o seu nome e até duvidamos que tenham mesmo sido reais. Quando bate essa dúvida, procuramos seus olhares em uma caixinha, onde guardamos muitas quinquilharias do passado, e às vezes encontramos um sorriso em meio a toda aquela bagunça. É incrível mas, nesses momentos de incertezas, tristezas e melancolia, esse sorriso nos cura por momentos, nos acalma como um bálsamo. Tentamos lhe alcançar muitas vezes, mas não conseguimos de tão bem guardado. Esse tempo nem importa mais.
É como morrer pela quinta vez, e não nos assustarmos mais com o fato, ficarmos bem e calmos, entregarmos a alma quase que saboreando com gosto. Sem nenhum remorso de por aqui termos passado.
Solidão é um estado novo e difícil de encarar, é ter que aceitar uma nostalgia que invade cada núcleo celular dos nossos cinquenta e alguns anos. Sem fome, sem suor, sem frio e sem….nada!
Andamos pelas nossas casas, que ficam cada dia maior, com o tédio por companhia, e insistindo em nos assaltar. Endireitamos os quadros e as fotografias, rasgamos e deletamos as que não fomos favorecidos pelo ângulo, outras deixamos em primeiro plano, podem ser de alguma serventia. Muitas imagens, murchas, secas, que batem bruscamente de frente com os bons sentimentos, tornando-os pó…que silenciosamente vão sumindo no horizonte.
Essa solidão, se embrenha devagarinho, formando montinhos de lixo aqui e acolá, e se descuidarmos, não conseguiremos jamais faxinar as nossas almas.
Por vezes não sei nada, mas me lembro da velha história, onde todos temos páginas em branco para serem escritas e desenhadas.
Então toda secura deverá ser regada, é essa a hora de nos despirmos, e percebemos o que sobrou preso a pele, e que nunca vai nos largar. Todo o resto deve virar quinquilharia dentro da caixa. Não podemos secar. Nus só com a nossa pele, descobriremos que somos alados, que podemos enxergar cada gota de orvalho sob um novo prisma. Que a solidão é só reflexão, é momento nosso conosco e sós. Momento de reorganização de todo o lixo. Momento para exclusão de tudo que deve virar pó.
Novos horizontes se abrirão, novos amores surgirão, e nem o mais forte aço inciso nos cortará.
Vamos encarar rajadas de ventos fortes, uivos por todas a brechas da casa, sem medo dos fantasmas. Deixemos a todos como platéia da nossa arte, da nossa capacidade de ficarmos nus e recomeçarmos uma nova história.
Ficaremos em silêncio apreciando a singularidade do pergaminho de nossas peles, e o som do chocalho de nossos ossos, até a tempestade passar, e então vamos voar como uma bela águia…
AF

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