Mas se não é do balacobaco essa droga de código de barras, que insiste em tomar conta do meu revestimento. Fui tão bem acabada, colorida, e já não sei mais pra o que apelar, na tentativa de conter os craquelamentos. Todos os tipos de princípios ativos já foram experimentados, até a modernidade dos laseres, e injetáveis também. E a tal pele, que se diz órgão e vital, não desacelera, continua a me desafiar, sem nenhum medo de ser retaliada com uma bela retalhada.
Parece ser sabedora do poder de denominar o meu limite com o meio externo, bem como promotora, de funções necessárias para a sobrevivência do meu eu. Ficam as três camadas comadres, decidindo o meu humor, e me colocando contra um grande e antigo amigo, do qual já não faço questão de chegar tão próximo. Perdão espelho.
Busco, em todas as fontes de informações, as saídas para uma pele saudável e durável, e só encontro conselhos já seguidos…parece não haver nenhuma revolução e nem novidades, para os meus dezesseis por cento de órgão. Ando bebendo agua feito um Camelo e haja vitamina A. Apelo para o choque térmico pelas manhãs, com aquelas aguas vulcânicas e caras, e como de tudo, o que dizem fazer bem…odeio pepinos.
Receitas caseiras, já nem experimento mais, isso só dava certo há décadas atrás, agora tudo tem que ser mais…agressivo, abrasivo.
Ando até desconfiando da sinceridade dos amigos quando dizem: ah! você está linda! Logo penso…que pena, já não estão enxergando tão bem.
Eu adoraria me livrar dela, como de um apêndice ameaçando supurar. Mas não é que a danada exerce a regulação térmica, a defesa orgânica, controle do fluxo sanguíneo, proteção contra diversos agentes do meio ambiente e funções sensoriais, como as sensações de calor, frio, pressão, dor e tato.
Tato, esse é o meu maior reconhecimento nos dias de hoje. No meio de tantos aborrecimentos causados por sua irreversibilidade, está a maravilhosa sensação causada pelo tato. É consolador saber que sentiremos o prazer de sermos tocados, das mais variadas formas, até a nossa morte.
Qual de nós não adora o toque das mão, dos beijos, dos abraços e da intimidade?
A danada da pele nos permite o maior dos sentimentos, que tão somente é permitido, quando permitimos o avanço dos toques, ah! o amor.
Diante dos fatos me acalmo, respiro fundo, reconsidero a responsabilidade dos banhos de sol ao meio dia, toda lambuzada de uma mistura de coca cola com óleo Johnson, das maratonas para alcançar o limite da pigmentação, de olho no mega decote azul turquesa que seria usado, e de todos os estragos que cometemos quando…devíamos cometê-los.
Na verdade não é motivo para muito alarde, porque o estranhamento da própria pele, torna-se matéria poética, assim observo melhor o meu eu, frente ao meu eu auto-critico, e a um universo de possibilidades, que ao invés de auto dilaceramento, me faz perceber uma figura alegórica, e também que todas as melhores manifestações, estão encarnadas na pele.
O cheiro de pele, na pele, à flor da pele…
Desmistifico a prevalência da visão, como única capaz de reconhecer o real valor da pele. Ela transcende todos os sentidos, e não vou permitir que pelo viés do tempo, meus sentimentos sejam distorcidos. Amém.
AF

PELE REAL PELE
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