O silêncio e a cacholeta relaxada me coloca em estado de observância e rememoração. Estava aqui pensando como nunca fui chegada a rótulos, encaixes e formas. A sobra ou a falta de alguma coisa parece ser inerente ao meu ser.
Faltava esmalte nas minhas unhas, bobes nos cabelos, um pouco de maquiagem, entre todos os argumentos que as adolescentes da minha época gostavam de usar, com o intuito de seduzir o bom e belo rapaz para casar. Nem de longe eu conseguia enxergar uma mulher aos vinte e cinco anos como titia, isso…aquela que não havia casado até então. Gostava mesmo de bola, roupas leves, sapatos mocassins, cabelos ao vento e muito sol. Sonhava com o dia em que sairia da tirania da minha mãe e viveria só, teria o meu próprio sustento e viajaria muito. Não tinha nenhuma intenção de que o movimento feminista tomasse conta da minha vida. Nunca fui sufragista. Nunca deixei descer goela abaixo nenhum radicalismo, bandeiras, até porque sempre amei saias e desejava as minhas crias. Fui mãe aos vinte. Solteira!
Um tabu que já não existe mais nos dias de hoje, mas naquele tempo era um reducionismo ofensivo, que pra mim e na minha vida, não fazia a mínima diferença, e isso sim me dava um certo ar feminista. Eu sempre fui o estereótipo da mulher que assim como os homens, podia fazer o que bem quisesse, respeitando somente os meus valores, minhas opiniões e meus conceitos. Clichê feminista? Soa como tal não é? Não me importo, não me rotulo. Foi uma decisão de percurso, e eu escolhi ser feliz, amar por amar, cozinhar por cozinhar, ser a dona do meu lar. Sou pertencente ao filo humano, e como tal posso ocupar todos os lugares que desejar. Foi-se o tempo em que não se usava batom vermelho ao meio dia, não se sentava para beber sozinha (sob o risco de ser taxada de prostituta), não falávamos sequer um palavrão. A essência do feminismo é fazer o que quiser, e não ter medo daquele homem com esporas, do carrasco de outrora. É sim dividir o prazer, as obrigações, cozinhar por amor e adorar ou não sexo. Sei que não agrado as feministas radicais, mas prefiro ser apaixonada por parte da causa como: defender o direito de não ouvirmos comentários misóginos, de nos livrarmos de antigos preconceitos, piadas mal colocadas, violência e diferenças salariais e pelo direito de sermos donas do nosso próprio corpo. No mais companheira…sai dessa vida de preferir ser rebelde do que ser escrava (a escravidão não mais existe) menos truculência e mais prazeres de todas as formas!
“são as mulheres que
fazem chorar as cebolas
como se descascassem a própria vida” (Benédicte Houart)
AF

QUASE FEMINISTA
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Comentários
2 respostas para “QUASE FEMINISTA”
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Adoro! Tão eu! Acho que todas nós nos dias de hoje!?
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Valentes, guerreiras e lindas! Beijos
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